Porque não fazer um filme de ficção-científica que envolva máfia, viagens no tempo, extraterrestres, humor, acção, drama, vários clichés hollywoodescos, ou seja, uma salganhada de todo o tamanho, procurar apresentar tudo em grande estilo e esperar que espectador não pense que nada do que está a ver faz sentido? Esta deve ter sido a pergunta colocada por Takeshi Yamakazi antes de começar a realizar "Returner" ("Ritânâ"), a sua segunda longa-metragem. Protagonizado por Takeshi Kaneshiro, um actor considerado pela revista Timecomo o "Johnny Depp da indústria cinematográfica asiática" e Anne Suzuki, "Returner" é o caso paradigmático do filme cheio de acção, cheio de estilo, que se torna numa inócua boa dose de entretenimento.
Kaneshiro é Miyamoto, um assassino cuja vida conhece uma reviravolta inesperada quando Milly (Anne Suzuki) surge do futuro para involuntariamente frustrar-lhe os planos de assassinar Mizoguchi (Goro Kishitani), um perigoso membro da tríade, que assassinara o seu melhor amigo durante a infância, para poder vender os seus órgãos. Com os criminosos em fuga, Milly trava conhecimento com Miyamoto de forma muito peculiar, ao colocar um dispositivo explosivo no seu pescoço de forma a que este ouça a sua história. Milly é uma militar oriunda do ano de 2084, que viaja até 2002, o ano em que chega ao planeta Terra o primeiro Daggra, uma raça extraterrestre que devasta o nosso planeta. Perante essa destruição e a morte de vários dos seus companheiros, esta parte do Tibete em direcção ao passado e acaba por chegar ao Japão.
Como seria de esperar, Miyamoto inicialmente começa por ironizar com a situação, mas logo começa a acreditar no discurso da sua interlocutora. Enquanto iniciam uma bela amizade, Miyamoto e Milly procuram a todo o custo encontrar o extraterrestre e destruí-lo. Perante a descoberta que a criatura se encontra no Instituto Nacional de Ciência Espacial, a dupla logo se desloca até ao local, no qual fazem surpreendentes descobertas em relação à criatura e deparam-se com a presença Mizoguchi e de vários elementos da tríade, com o antagonista a querer utilizar o extraterrestre e a sua tecnologia para dominar o Japão. É verdade, o cliché máximo do vilão que quer assumir o controlo do seu país e quiçá do Mundo é utilizado em "Returner", um filme japonês que resolveu utilizar vários clichés hollywoodescos e proporcionar um espectáculo que proporciona alguns momentos de entretenimento, que dependem do carisma da dupla de protagonistas para funcionarem da melhor maneira.
Com um conjunto de efeitos especiais que deixam particularmente a desejar e uma história que parece decalcada de filmes como "E.T. - O Extraterreste", "O Exterminador Implacável" (viagem no tempo para impedir a catástrofe), "Stargate" (o portal), "Regresso ao Futuro", "The Matrix" (as cenas de luta, a utilização abusiva do bullet-time), entre muitos outros, "Returner" destaca-se por conseguir reunir esta misturada de clichés de filmes de Hollywood e utilizá-los para formar um filme de ficção-científica agradável, no qual o ritmo acelerado do filme procura esconder os vários problemas a nível do argumento.
Se o argumento tem problemas, o mesmo não se pode dizer do desempenho da dupla de protagonistas, com Takeshi Kaneshiro e Anne Suzuki a mostrarem o seu carisma e talento na arte da representação, algo que permite dar alguma dimensão extra aos seus personagens. Kaneshiro surge como um anti-herói, um indivíduo que tinha tudo para ser o antagonista, mas aos poucos assume a sua faceta mais heroica ao ajudar a protagonista, com os dois a apresentarem uma dinâmica interessante que facilmente faz esquecer alguns dos problemas do filme, quer a nível do argumento, quer na parte mais técnica. Sem efeitos especiais dignos de nota, com uma banda sonora intrusiva e muita acção, "Returner" tem na velocidade da narrativa e na dupla de protagonistas os seus pontos fortes, com Takashi Yamakazi a procurar ainda introduzir no meio de toda esta agradável barafunda relacionada com viagens no tempo e extraterrestres, um conjunto de antagonistas pertencentes à Tríade, que raramente conseguem sair do estereótipo do gangster violento.
"Returner" é o caso paradigmático do filme fora de Hollywood que tanto quer imitar o cinema norte-americano, que acaba apenas por parecer um conjunto de ideias apresentadas de forma solta. Geralmente não dá bom resultado. Faltam recursos financeiros e técnicos para melhores efeitos, a história raramente tem um laivo de genialidade, parecendo sempre ser tudo muito artificial e reunido à pressão. Por mais incrível que pareça, "Returner" consegue ultrapassar esses problemas e revela-se um inócuo pedaço entretenimento, que é apresentado em grande estilo e consegue entreter. Nada mais do que isso. Os plot holes surgem mais do que o pretendido, a banda sonora é intrusiva, o enredo não prima pela originalidade, mas consegue criar uma certa empatia com o espectador, não faltando uma história relativamente agradável, algumas cenas de acção bem elaboradas, um pouco de humor e interpretações bem conseguidas que aos poucos esbatem os problemas da película. Com boas interpretações de Takeshi Kaneshiro e Anne Suzuki, "Returner" falha em emular os vários filmes de ficção-científica que procura copiar, mas consegue revelar-se um pedaço frenético de entretenimento, que não fica nada mal como uma escolha para uma ociosa sessão da tarde dedicada a ver filmes.
Classificação: 2.5 (em 5)
Título original: “Ritânâ”
Título em inglês: “Returner”.
Realizador: Takashi Yamakazi.
Argumento: Takashi Yamakazi e Kenya Hirata.
Elenco: Takeshi Kaneshiro, Anne Suzuki, Gorô Kishitani, Kirin Kiki, Mitsuru Murata, Xiaoqun Zhao, Kisuke Iida.
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