O mês de Janeiro está a aproximar-se de dia para dia e isso quer dizer que estamos cada vez mais próximos da estreia de "Os Miseráveis". É verdade, o dia 3 de Janeiro de 2013 marca a estreia em Portugal de um dos filmes mais esperados aqui pelo Rick´s Cinema, a adaptação cinematográfica de "Os Miseráveis", realizada pelo cineasta britânico Tom Hooper.
Não faltam boas razões para termos expectativas positivas em relação a este projecto. Inspirado no clássico literário de Victor Hugo e no musical homónimo, composto por um elenco talentoso, "Os Miseráveis" marca a nova incursão na realização cinematográfica de Tom Hooper, após ter vencido os Oscars de Melhor Filme e Melhor Realizador em 2011 por "O Discurso do Rei".
O musical que inspirou o filme foi inaugurado em Paris no Palais des Sports, em 1980. Criado por Alain Boublil, Claude-Michel Schönberg e Herbert Kretzmer, o musical esteve em exibição ao longo de três meses, tendo terminado após o final do contrato do mesmo. Em 1985, estreia a versão em inglês do musical, produzida por Cameron Mackintosh (produtor de "Cats") e adaptada por Kretzmer. Realizado por Trevor Nunn e John Caird, com música composta por Claude-Michel Schönberg, o musical foi um sucesso, tendo posteriormente sido adaptado para a Broadway.
O sucesso do musical de "Os Miseráveis" cedo levou a que adaptação cinematográfica do mesmo fosse um tema bastante quente, mas longe de ser consensual. Veja-se que em 1988, Alan Parker foi considerado para o cargo de realizador, posteriormente, Bruce Beresford assinou contrato para realizar a adaptação, mas tudo parecia falhar. Em 2011, Tom Hooper entra em negociações para realizar "Os Miseráveis", assume o cargo e começa a desenvolver o projecto que conta com o argumento de William Nicholson e a produção de Cameron Mackintosh (o mesmo do musical). As negociações decorreram enquanto Hooper ainda se encontrava a promover "The King's Speech" e como este salienta ao Awards Daily, foi um projecto que o deixou bastante agradado: "(...) I felt very lucky to find this bit of material. This is the word’s longest-running musical… One of the great musicals that had never been made into a film. It was a really interesting opportunity. So I certainly felt lucky to be able to have that conversation. And if what happened to me at the Academy [Awards] helped, then that’s fantastic.
O entusiasmo de Hooper em relação ao projecto tem sido notório na divulgação do filme, mas quais serão as suas fontes de inspiração? Em entrevista ao Coming Soon, Hooper revelou ter aproveitado a oportunidade para ver e/ou rever alguns clássicos: "I did. I quite enjoyed having an excuse to go back and watch some of the classics. I particularly loved watching "The Sound of Music" again, which I haven't seen since I was a kid, and also really found it interesting how it had a similar structure to "The King's Speech" in that you're in this personal story, and then suddenly the Second World War comes on and you're going, "Oh God, of course. That's why." Suddenly the jeopardy jumps and the way the war ambushes the narrative stakes and creates this kind of intensity for the personal stories to play out, I thought it was interesting. But yeah, I saw "Cabaret," and actually I'd never seen "Cabaret" until this--which I can't believe--that was amazing. "Fiddler on the Roof," I'd never seen and I saw it. I managed to get hold of an actual print of "West Side Story" and screened it for just me, which was kind of really cool. So yeah, it was good going back, particularly to the glory days of the musical and looking at what the old masters did with the form".
Com Tom Hooper confirmado no projecto, restava saber quais os elementos que iriam compor o elenco de "Les Misérables". Vários foram os nomes associados ao projecto, mas no final, podemos salientar que Hooper reuniu um elenco de respeito onde não falta Hugh Jackman como Jean Valjean, Russell Crowe como Javert, Anne Hathaway como Fantine, Amanda Seyfried como Cosette, Eddie Redmayne como Marius, Samantha Barks como Éponine, Helena Bonham Carter como Madame Thénardier, Sacha Baron Cohen como Monsieur Thénardier, entre vários outros elementos.
Para termos uma ideia em relação aos personagens interpretados pelos actores que fazem parte do elenco, vale a pena efectuar uma breve apresentação dos mesmos:
Jean Valjean - um indivíduo que sai da prisão de Toulouse, dezanove anos depois de ter sido preso por ter roubado pão para alimentar a filha da sua irmã e várias tentativas de fuga falhadas. Este conta com a oposição de Javert, o polícia interpretado por Russell Crowe.
Javert - Um inflexível inspector da polícia que passa grande parte da sua vida a perseguir Valjean, um indivíduo que procura fazer justiça a todo o custo, mesmo que para isso tenha de prejudicar várias vidas.
Fantine - Interpretada por Anne Hathaway, esta é uma jovem que fica grávida de um filho ilegitimo de Félix Tholomyès, um indivíduo que a abandona. Sem condições para cuidar da filha, esta deixa a jovem Cosette aos cuidados da família Thénardier. Despedida da fábrica onde trabalhava, Fantine vende os seus cabelos e prostitui-se.
Cosette - Vários foram os nomes ligados ao papel, mas a escolha recaiu em Amanda Seyfried. Vítima de maus tratos por parte dos Thénardier durante a infância (interpretada pela jovem Isabelle Allen), Cosette tem na figura de Jean Valjean o seu protector. Esta apaixona-se pelo jovem idealista Marius Pontmercy (Eddie Redmayne).
A escolha do elenco não resultou apenas do talento dos actores, mas também da capacidade dos mesmos em cantarem durante as filmagens, visto que Tom Hooper optou que todos os actores e actrizes cantassem. Ao contrário do que é costume em vários dos filmes musicais, as vozes dos actores nos momentos musicais não foram acrescentadas depois das gravações, pelo que a câmara captou o que os actores cantavam no momento da interpretação.
Esta situação foi realçada por Hooper durante a sua entrevista ao Awards Daily: "What I found is that the combination of the singing and the acting that I required, and the ability to act through song in a cinematic way…for the medium of the camera… It was…really hard to find people who offered that perfect combination. There were a lot of people who auditioned. And a lot of people were brilliant. But it was hard to find people at the level that I was looking for. Anne Hathaway (Brokeback Mountain), Eddie Redmayne (My Week with Marilyn), Samantha Barks (TV’s Groove High) were really standing out from that process. In particularly because I was committed to doing the film live, I knew that had to find people that had the singing ability for real. There could be no tricks later on. One of the things that’s really hard to do…is to serve the score musically. To sing it, to find the power in your voice that you need to serve these songs, while keeping the necessary stillness in your face, and the necessary intimacy and minimalism that a film camera requires. It’s technically hard to do. In “I Dreamed a Dream,” to do the belt voice that song requires, and also keep your face very still for the close-up".
Com realizador, argumentista, elenco e restante equipa criativa confirmados, as filmagens estavam prontas a serem iniciadas, algo que aconteceu oficialmente a 8 de Março de 2012. Tendo decorrido em França e Inglaterra, as filmagens terminaram oficialmente no último terço de Junho do corrente ano, com Tom Hooper a ter conseguido concluir as mesmas num prazo relativamente curto. Para saciar a curiosidade dos fãs, foram várias as imagens do set que foram surgindo on-line (oficiais e não oficiais), sendo notável toda a campanha de marketing que envolveu o projecto.
Esta adaptação de uma peça de teatro de grande sucesso, aliado a uma campanha de marketing agressiva tem conduzido a que as expectativas em relação ao projecto tenham sido bastante elevadas, apesar desta não ser a primeira adaptação cinematográfica da obra de Victor Hugo. Publicado originalmente em 1862, "Les Misérables" é uma obra-prima da história da literatura, tendo vencido o factor do tempo e a despertar emoções fortes nos seus leitores, sendo um objecto de especial interesse para adaptações cinematográficas e televisivas. A primeira adaptação cinematográfica é datada de 1897, "Victor Hugo et les principaux personnages des misérables", dos irmãos Lumière, sendo seguida de muitas outras. Veja-se por exemplo, "Jean Valjean" (1931) de Tomu Uchida, "Los Miserables" (1943) de Renando A. Rovero, "Les Misérables" de Billie August, entre muitas outras. No entanto, esta é a primeira versão que adapta o musical de sucesso, colocando Jean Valjean e companhia a cantarem de forma bem sonora os seus diálogos.
O enredo de "Os Miseráveis" desenrola-se em França, durante o período compreendido entre a Batalha de Waterloo (1815) e os Motins de Junho de 1832, acompanhando uma fase de crise da história francesa. O filme tem a seguinte sinopse no seu site oficial: "Com a França do século XIX como pano de fundo, Os Miseráveis conta uma apaixonante história de sonhos desfeitos, de um amor não correspondido, paixão, sacrifício e redenção, num testemunho intemporal da sobrevivência do espírito humano. Jackman interpreta um ex-prisioneiro, Jean Valjean, perseguido durante décadas pelo cruel polícia Javert (Russell Crowe), depois de ter quebrado a sua liberdade condicional. Quando Valjean aceita cuidar de Cosette, a filha da operária Fantine (Anne Hathaway), as suas vidas mudam para sempre".
O filme estreou a 25 de Dezembro de 2012, nos Estados Unidos da América, apesar de já ter sido exibido para os críticos. Apesar das expectativas criadas, vale a pena salientar que "Os Miseráveis" não tem recolhido unanimidade junto da crítica. Veja-se o caso da Manohla Dargis, do New York Times, uma referência na escrita de crítica cinematográfica, que concluiu "As he showed in “The King’s Speech” and in the television series “John Adams,” Mr. Hooper can be very good with actors. But his inability to leave any lily ungilded — to direct a scene without tilting or hurtling or throwing the camera around — is bludgeoning and deadly. By the grand finale, when tout le monde is waving the French tricolor in victory, you may instead be raising the white flag in exhausted defeat".
Manohla Dargis a ficar pouco convencida, Ann Hornaday do Washington Post comentou que "There are moments early on in “Les Misérables” when viewers may feel like they’re about to witness a bona fide disasterpiece, one of those spectacular miscalculations that can be almost as entertaining -- almost -- as a superbly executed work of audacious ambition and scope". Hornaday não se ficou por aqui, tendo salientado que "There’s little sense of dynamism or pacing, a fault both of the original score and Hooper’s unimaginative staging and camera work, which tend to underline, italicize and boldface every emotional beat".
Se as opiniões negativas surgem em bom número, o mesmo se pode dizer das opiniões positivas. Scott Chitwood do Coming Soon salientou na sua crítica os bons momentos musicais e designs, bem como "Despite the cool effects and detailed costumes, it's the actors that really make "Les Misérables" work. We already knew Hugh Jackman, Russell Crowe, Anne Hathaway, and Amanda Seyfried could act, but this film really shows off their full range of talents".
Kofi Outlaw do Screen Rant segue no rumo favorável: "Hooper’s direction of Les Misérables is fittingly epic and gorgeous, bringing nineteenth century France alive in the same way he did WWII-era England in his Oscar-winning film The King’s Speech. The production design and costumes of Les Mis are impeccable, and many familiar set pieces from the award-winning stage play are brought to life in such vivid new dimensions that it’s hard not to feel as though you are seeing the story again for the first time". Outlaw concluiu a sua crítica salientando que "Nevertheless, the sheer scale of what Hooper and Co. have created is impressive in its own right, and the streamlined and insightful take on Hugo’s novel opens up the story in new ways that distinguish this version of Les Mis from its many predecessors. Is it perfect? No. Is it worthy of the word “classic?” Perhaps in some circles of opinion. But for my part (as an admitted causal fan of musicals) it is simply a very gorgeous, well-executed (but at times lukewarm) film".
"Les Misérables" tem despertado amores e ódios, algo de sempre positivo no cinema, pior seria se gerasse indiferença por parte dos espectadores e da crítica. As expectativas estão altas e a campanha de divulgação tem ajudado e muito ao adensar da curiosidade em relação ao filme, veja-se os magníficos posters lançados, os vários trailers, clips, imagens, featurettes, entre outros. Aqui pelo Rick´s Cinema a expectativa em relação a este projecto é bastante elevada (sim, esperamos sempre o melhor dos filmes, apesar de ser impossível gostarmos de todos) e esperamos um musical de grande nível, recheado de momentos emotivos, boas interpretações e muito boa música.
Num artigo sobre "Os Miseráveis" seria impossível não divulgar o belíssimo trailer oficial legendado em Português do filme:
Vale a pena recordar que "Os Miseráveis" estreia em Portugal a 3 de Janeiro de 2013. "Os Miseráveis" estreia no Brasil a 1 de Fevereiro de 2013. Se tiveram paciência para ler este mini-artigo até ao fim, gostávamos de saber se gostaram do mesmo e se devemos continuar a apostar neste tipo de posts relacionados com algumas das principais estreias da semana.
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